quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

GRAFITE

A poesia chamou-me ao canto e disse:
Canta a corda que te amordaça
Canta e põe força nos dentes.

sábado, 27 de dezembro de 2014

FOTOGRAFIA DESBOTADA



No olho da menina,

retina, a imagem farta,

retida,

da vida que ainda não vivi.

(Maria Alice Bragança)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ADÁGIO MONÓTONO


O silêncio das horas

levou o tempo.

Um ruído despe a fresta da janela,

invade o quarto, revela o sonho,

o horário,

o cansaço,

a vida linear.

(Maria Alice Bragança)

sábado, 13 de dezembro de 2014

ROMEU INSÓLITO


Sei que ele não virá voando a minha janela
super-homem alado,
nova versão de príncipe encantado,
mas cansei dessas emoções banais.
Sei que será mais uma paixão qualquer,
mas quem sabe a gente se ama na estação do metrô?
Quem sabe inventa um novo romance?

Um cavalo branco não seria bem visto
em cima do carpete da entrada do prédio.
E, se tentares subir até a minha janela,
Romeu insólito,
a polícia pode chegar.
Poderemos talvez tentar escrever uma telenovela,
esperando o tempo chegar.

(Maria Alice Bragança)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PARTIDOS


Marcelo foi a Dakar.

Voltou.

Celene morou em Paris

no Quartier Latin.

Pobre coração,

queria conhecer o mundo,

mas não coube em si

tão só.

Dó de Laura que partiu.

Viu o mundo e só

dentro de si não cabia

tanta solidão.

(Maria Alice Bragança)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

PASSEIOS NA MAUÁ

A invisibilidade do rio se rebela
nos mastros dos navios
que o muro não esconde.
Quando olhavam o pôr-do-sol,
Solano e Lúcia pensavam
em visitar os portos do mundo.
Os sonhos, as promessas,
a cidade guardou consigo.

(Maria Alice Bragança)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

OUTONO



Há um poema em cada leitor,

único, como essa noite de quase outono,

de folhas murmurantes. Este instante.

Um céu que não se repete,

já passou.